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A mostrar mensagens de julho, 2021

Repara

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repara: uma luz cai exacta  – toma nos braços a glória-da-manhã Eugénia  

Lavrada no céu

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a luz lavrada no céu aproxima a dureza da pedra da inocência da rosa Eugénia

Vera e Aloé

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Viu-a ao longe. Acelerou o passo. Olhou o canteiro. E exclamou: - Que lindo é, o aloé! Ouvida aquela exclamação, da Vera, pousou os olhos na flor. Sorriu. Conversaram. Despediu-se. Seguiu em frente. Parecia que a luz trazida pelo sol não fazia cerimónia alguma para entrar naquela rua e deixar-se tombar sobre os seus pés. Das árvores, caíam sombras cinza. Outras, mais leves, borbulhavam por debaixo das asas de uma borboleta. Dobrou a esquina. E a meio do trajecto sentou-se num banco de pedra. As pontas dos seus dedos não demoraram a sentir a macieza da superfície polida do granito. Deixou-se ficar por momentos; somente a olhar. As recordações não lhe tardaram: Lineu. Um nome a circular na sala de aula do liceu; há já tanto tempo. Lineu poeta. Lineu naturalista. Carl Linnaeus. Aloé vera. Planta descrita pela primeira vez em mil setecentos e cinquenta e três. Por Carl Linnaeus – Lineu. Eugénia  

Vi uma flor branca

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uma flor branca numa folha branca na pauta    o canto da cotovia Eugénia

Flauta

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flauta sopro      canção de flauta o pulsar da madeira   canto flauteado       do melro   e o melro levanta voo . que ninguém se esqueça de olhar os atalhos do voo    no céu – aí, o melro canta   ao regresso da noite   Eugénia

O que fica deste lugar...

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O que fica deste lugar não é ilusão: é adorno; uma cópia do passado, de um passado revelado por evidências do seu tempo, estendida sobre muro. A debruar o silêncio; aquele silêncio que interrompe o chamamento dos pássaros - que gostam de cantar. O halo parado das árvores, a erosão da pedra, o perfume extinto dos crisântemos, de vaso; o musgo; a torneira de água comum que outrora refrescava o pátio, ondulando ao ritmo da brisa. O portão sem destino; e os gatos de agora a dormitarem. E: No céu uma luz, uma luz pequenina; uma nuvem, uma nuvem branca; ficam até anoitecer, é já fim de tarde. Eugénia  

Enquanto Hélio viaja...

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Quando. Quando a coroa solar se expande – alimentando os jardins do universo – ondula azul a ascensão vagarosa da água. E a luz dilui-se em transparência sobre a areia – molhada. Enquanto Hélio viaja e reescreve o crepúsculo, sob navios no horizonte.   Eugénia

Na descida

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na curva da escadaria bastou-me   um gérmen de luz   Eugénia  

Flor-de-cera

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E a luz reincide: sulca as sombras no silêncio; tece a água; folha verde; revestida pelos seus mistérios, estrela; a estrela, abre a flor –   de cera.   Eugénia  

Adornos rutilantes

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Há adornos rutilantes, sobre mesa - como palavra contida... Dedos castos sobre tela de Hespérides tecem cores sob luz da tarde – branco-roxos claros-escuros – jardim eco-chama. Rutilante. Vibra!   Eugénia

Em trânsito

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  No labirinto deste céu com o sol concentrado a fragmentar-se em nuvem, passa a lua em movimento enredando-se nas colorações - que se acentuam em trânsito ao fazer-se a noite. Eugénia

Abro a porta Entro

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Passei para escutar o empedrado de granito sob os meus pés; o trinado do melro adensava-se num poleiro do quintal detrás do muro; talvez à espera do regresso do lusco-fusco, ondulando halos adentro clareiras abertas à luz. Olho a porta floreada a pedra o azulejo. Já longe iam os meus passos vagarosos, com destino, quando uma voz tardia interrompe os sons de ocasião; talvez louvando o céu que escurecia.   Então pego na chave subo as escadas abro a porta. Entro.   Eugénia

Defronte à praia

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Por vezes apetece ficar defronte à praia, ao fim da tarde, deixando o tempo vadiar ao nosso redor – sem nunca o escutar. Permitindo-nos sentir à flor da pele o toque inexprimível das lindezas do mar. Às vezes, é o galope de uma onda insubmissa que age voante como pétala que se desprende do cálice, tornando o seu voo livre; outras vezes, é o entorno da espuma que crepita na dobradiça de uma onda; outras vezes, são miríades de algas que tecem cores líquidas modelares distendidas à superfície da água; outras vezes, são pronúncias de criança enfatizando o prazer dos pés molhados, salgados; ou a mão do crepúsculo cheia de promessas de cenários a colher. Pois é: defronte a cada sedução do mar, apetece ficar. Deixando o tempo vadiar.   Eugénia  

Sonhos

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Sonhos. Não sei por que certos sonhos vêm ter comigo. São fundos, com raiz fasciculada: há neles uma sensação imagética de bem-aventurança. Abraço-os. O mar. Ao fundo a ondulação lisa – rectilínea. Uma forma geométrica feita de simplicidade: união de pontos; sem qualquer atropelo, enfileirados; cada um deles, tamanho nulo; em número incontável. Até lá, as ondas. A espuma branca. Nasci numa cidade de mar. Em parte, encostado a rochedos. Com algas vermelhas. Com algas pardas. Com veios cheios de limo. A maré-alta vogando pelos areais. O horizonte; idilicamente o seu extremo. O sol ou a névoa, conforme o tempo, mudam-lhe a cor. Enchem-no de ecos, na hora poente. Deflagram colorações, vivas ou ténues, formatando caminhos labirínticos. Entro. Sinto um sobressalto. Apanho o sonho. Encosto-o contra o peito. Ouço-lhe o rumor. Entre as minhas mãos, a vontade indestrutível de que vença. Sigo.   Eugénia

Tomei nota

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Sonhava com a cor do agapanto; com o canto do lírio branco. Disse-me. Olhos postos à distância, testemunhava a nascente dos dias. Disse-lhe: olha o céu. Naquele lugar o céu e naquele momento desenhava com caneta ponta fina idiomas de pássaros algures num dos seus ramos; e o ramo tamborilava curvava-se e, de seguida, endireitava-se, balbuciando rumores celestes; burilava nuvens algodão branco; calcetava a terra com sombras leves. Seguiu caminho fora; ao encontro de lírios brancos? Tomei nota: foi num jardim urbano era domingo. Eugénia

Representação cromática da terra

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Representação cromática da terra   na leira da casa sítio defronte de um rio cheio de orações de ave ondulação rasa esta cor activante aqui e agora invulgar feita de tinta: seiva e sol entre tufos de hortênsias três tons de azul ultramarino cerúleo e klein onde pára a borboleta deixando no ar um rasto de dança de asa até à dormência do dia depois vem o chamamento do cuco canoro dito sílaba a sílaba entoação de ninar talvez começada na ramagem da figueira enquanto a noite embala a última luz   Eugénia