Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2021

No Castanho - Paradela 1.

Imagem
Quando as portas aludem à recriação No alto, as borboletas brancas fluem e refluem, de fraga em fraga, em torno dos silvados, enquanto a terra absorve o oiro do sol de verão e o granito grita todo o brilho da mica. Cá em baixo, havia as ruas; havia o ar saturado de luz levitando sobre as ruas; havia as varandas debruçadas sobre as ruas; as escadas carregando as primitivas pedras - soerguidas da terra - uniam as ruas. Em silêncio passei pelas ruas; era setembro as portas fechadas; o céu por cima - azulado. Descobri que as portas nos interpelam - devagar, como as estrelas. Há portas esmorecidas pelo tempo cujos veios me inspiram num súbito alento. Às vezes, o passado e o futuro fundem-se; as portas transformam-se     pêssego-polpa rosa velho abóbora-menina uma poética simbiose da tinta macia com o musgo antigo entranhado nas traves os nichos de teias acomodados nos ângulos o brilho fosco das chapas tons delícia-rústico que se harmonizam com a atmosfe

Tisanas

Imagem
Tisanas Mesa. Redonda. Total. Chávena. Superfície Fluída. Súbito perfume. Rutila. Diluído Em lúcia-lima. Imagem dum tempo. Crisálida do passado. E: Se na jarra - Vidro Coalhado. A adornar O aparador antigo. - Houvesse uma flor Seria Um crisântemo branco. Eugénia  

Quando

Imagem
quando a tarde terminar só me resta a poesia - recolho uma pétala de luar Eugénia  

O tempo da lua

Imagem
O tempo da lua Ia eu tranquilamente a caminho de casa. Quando, de repente, a lua me chama. Fiquei, por minutos, parada. Perplexa. Uma nuvem redonda, azul, celeste volumétrica, protegia a lua. E a mais completa negritude nos amplos contornos do céu. Reparei que o noitibó suspendeu a sua canção – nocturna. Para que o tempo fosse dado somente à lua? Para que o tempo fosse dado somente ao silêncio? Prossegui o meu caminho. Quando cheguei ao pé da escadaria da minha casa, a lua ainda lá estava. Pregada ao céu. Com um rosto já diferente. Mas ainda crescente. A nuvem fluída. A fronteira, linha curva.   Outono – pego em cardumes de luz e desfolho-os como pétalas.   Eugénia  

Às vezes

Imagem
Às vezes os mares recolhem as águas aproximando-as da rota dos navios, ante o horizonte. E a onda marginal fica distante: parece um torvelinho de espuma mansa. Enquanto uma luz ténue de vidro vai preparando a claridade. - É tão bonita a névoa a clarear suspensa sobre a água! Neste mar a meus pés, a onda – sereníssima – demora o encontro com a areia; e a areia respira humedecida. A maresia é atravessada por gaivotas e as suas pausas no areal misturam o silêncio com o marulho longínquo. Uma gaivota ergue-se e, numa intimidade mítica com o céu enevoado, desenha no ar o grafismo da sua própria aspiração. Tudo é perfeito: tudo se harmoniza. Eugénia  

Cores de Cézanne

Imagem
Olho e penso na gama de cores que Cézanne explorava para a sua criação. Nos seus quadros, os violetas ou o azul, o verde, o ocre da terra, certos vermelhos, como a laca ardente das maçãs - ressoam como luz de outono. E: Compreendo a persistência da seiva criadora Compreendo a nudez dos plátanos o grão de vento a semear a terra o  desejo das chuvas de penetrarem fundo na terra. Assistirei à criação de novos verdes; ao azul ao gaio pousado no seu voo. Eugénia  

Tece

Imagem
A luz ponto a ponto tece - fios  de silêncio Eugénia

Parei o relógio

Imagem
Parei o relógio olhei o céu vi águas de ouro adentro veios celestes. Parei o relógio e ausentes os segundos das horas dos dias olhei a colagem artefactos de luz moldando a ramagem. De repente o relógio restaura os segundos negoceia com as aves nocturnas o seu regresso sem demora. Eugénia  

Ouço

Imagem
Olho a sombra de um torvelinho branco; balanceia na fuga de uma ponta de vento - leve - que passa. As sementes quentes cerzidas na terra; reino de um simples pássaro, inaugurando a noite. Ouço. Eugénia

A brandura

Imagem
A brandura; a sua audácia; de onde se desprendem fios claros; descem lentamente; enfeitam pétalas de petúnia; adensam-se raízes pendentes do céu ou vogam por umbrais cinzelando a copa de árvores; definindo gestos da sombra caída na terra, granosa. Palpitam mutações, monólogos, de rostos celestes pré-nocturnos. Antevê-se a dança dos pios; a placidez; a translação de astros férteis longínquos, na ausência da erosão dos passos. Eugénia