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A mostrar mensagens de junho, 2021

A rola que inventei

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Eis a pedra – no caminho. A seiva nos interstícios da terra; o musgo viajando pela mica onde a petúnia brava se ergue perante o céu – até ficar flor. Espero a rola que inventei, com asas impregnadas de longitude; de voos; a penugem malhada; no bico o arrulhar bravio. Veio antes de anoitecer derramando ritmos descendentes.   - Viste-a? Cativada pelas flores atravessou o muro – com recato.   Eugénia  

Há muros

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Há muros que se adornam com flor de trepadeira. Vinda de semente vadia soprada pelo vento. E se a pedra do muro estiver à vista, denunciando o desgaste pelo tempo, toda a sua beleza se expande e o muro torna-se magnífico.   Por entre rasgos a terra erodida pela seiva; as raízes; a cor; o brilho das lágrimas.   E: uma ave.   Primeiramente sóbria contempla a pedra ou até a cor do céu.   Oh: Agora o trinado alastra e o azul celeste liso dá lugar à cadência.   Eugénia  

Para compor o canto de um passarinho

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Para compor o canto de um passarinho precisou primeiro de ver o Jardim de Joan Miró, os azuis do jardim; porque os azuis são necessários ao voo dos passarinhos. Para compor o canto de um passarinho precisou primeiro de ouvir a Primavera de Vivaldi; porque a renovação da seiva e o ritmo do refrão são necessários à vida dos passarinhos. Para compor o canto de um passarinho esperou primeiro pelo lilás das flores; porque o aroma e o néctar são necessários ao solfejo das melodias.   E, ah uma asa pequena inesperada, ponteando a paz, interrompe o azul; cobre a folha nova; testa a melodia.   Eugénia  

No sobreiro

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No sobreiro       há um céu pousado       tonalidade serena       o seu silêncio       sem palavras       sublinha os ramos       com a ventura       que só os céus sabem e       a resposta da ramagem é       sem percalços         ondulações       matizes       verdes ou dourados   . vou pedir ao céu que nos traga no peito estrofes do cante alentejano; e desenhe uma felosa-musical, em qualquer ramo, para as cantar .   Eugénia  

Brilhos Colorações

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Na quietude – o brilho inclina o rosto sobre a maçã . Presa ao pé – equilibra-se a coloração de um fruto   Eugénia  

Pequenas notas 13.

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O que nos fica deste lugar não é ilusão, é o adorno – uma espécie de passado persistente, debrum do silêncio-terra comprometido com a voz das aves. Cantos efémeros perseverantes, como alegre brisa pousada no verde-folha. O hálito sem nome dos grãos de pólen – à solta –, dando mãos à vida.   O passado não se perde, penso.   Eugénia  

No terreiro

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Entrei no terreiro encravado entre muros de casa antiga: suporta pendente a cor do céu; a tranquilidade reflecte o pousio das ramagens; o cascalho encravado na terra por entre raízes aprumadas; e, ao entardecer, o verde véu do arbusto encosta o corpo cansado contra o granito pedra de muro, enquanto as labaredas descem intermitentes para junto do mar. Há um diálogo entre mim e o que o terreiro me inspira: suponho que me fala. No terreiro, o concreto é o bem-estar. Medito sobre esse inabalável estar bem, afundado no silêncio que se repercute na voz do arbusto, uma simples voz, vegetal; de uma grande intimidade com as pautas de música, desatando os cantos de ave e os sons de folha que se agita; o perfume.   Metamorfoses – abrem-se gineceus mas antes: as corolas.   Eugénia

Em cada manhã

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Em cada manhã há uma funda ventura a água da clepsidra circula nos veios do tempo   as asas do relvado murmuram.   Eugénia (Papel usado: João Sá)