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A mostrar mensagens de outubro, 2021

Cenário dourado

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Era agora somente a folha dourada; um minúsculo bulício a colar-se à folhagem; um rastro atonal, primeiro; depois, o reflexo de um lírio, no trilho da água. a desnudação da seiva; o ponto final; a queda da folha dourada. . com o timbre o vento compôs o bailado - a queda das folhas em verso - o cenário dourado. Eugénia

Era

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Era a luz suavizada diminuindo devagar sobre a pedra. Era o ar quieto devaneando sob a forma de vento. E: o grito do voo exausto silenciado dentro da pedra em que penetra. Era: o eco luminoso dos astros? do limbo da folha movida? Era a alma da palavra. Eugénia

Sete Mares

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Um navio chama outro navio para atravessarmos os mares. No limiar dos mares Os mais belos rastos de luz. As estrelas. Sobretudo as estrelas. Deslizam iluminadas. Com vida própria. Por sobre estradas infindáveis. Enquanto esperam a aurora... Olho o horizonte: um fio rectilíneo molhado com luz poente. Ouve-se deslizar o canto das viagens. A esta hora, as ondas, habitualmente rumorosas, mais leves. Aí, irreprimíveis, pousam os sonhos. Sobre aquela linha rubra poente de mar azul. Dum azul longamente azul. Um azul diluído. Feito de luz e sal. Do lado de cá, as gaivotas descansam seus voos como lírios brancos que, desprendidos e selvagens, despontam da terra pedregosa. Noutros lugares, outros mares. Desfazem-se em múltiplas espumas brancas, douradas, esmeralda, negras... Tresmalhadas, mergulham por sobre outras encostas; outras dunas; outras flores; outras vozes... Mares. Águas sempre olhadas de vagar - aproveitando, quem as olha, uma nesga de tempo, do tempo sem tempo que corre parado. Com

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  Antes de anoitecer, poentes outonais despertam da raiz do sol; progridem na imensidão, capazes de gerar o brilho das folhas; tecem sinfonias em berços de seiva; emolduram as árvores. Um pecíolo quebra. A folha cai. Acorda Vénus - silente. No instante adiante, espero a noite: anúncio de um novo dia.   Eugénia

Neste recanto

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  neste recanto do céu desabrochou um lírio branco Eugénia

Lírio branco

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  Lírio branco. Lírio d'água. Desfolhada. Volátil. Desponta nas raízes do céu. Humedece os ponteiros do relógio. Humedece o tempo. Humedece as rémiges da gaivota. Pede-lhes voo brando. Sutura a brecha do granito. Fendido pelo grito da rua. Vazia. Busca a nervura. Agora outonal. ouço o teu passo atravessa o tempo - segue comigo como lírio branco Eugénia *fotografia e texto: 2020

Comentou

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- São bonitos - comentou -, com aquela libelinha. sonhei com flores brancas  - tingiam águas   no alvorecer . no voo de uma libelinha ondula a sombra ondula o vento Eugénia

Pequenas notas 15.

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A flor rosa. A flor. O que resta da chuva sobre a flor. Eugénia  

Teia

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Teia pendurada na grade cerzida Olhei-a como se olham as estrelas Eugénia

Fechado

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este portão   fechado – no caminho luz de outono   Eugénia  

Tinha o voo dentro do peito

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Ouvi um gesto. Repetido. Julguei tratar-se de um verso de um poema. Eram palavras de uma imparável beleza; um extraordinário alinhamento rítmico.   numa folha em branco a cor do poema – verso branco   Eugénia  

Ó

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Ó o múrmuro no voo da borboleta leva o último fio de luz . por entre fissura de pedra a raiz da flor cria uma espécie de noite com estrelas Eugénia

No Castanho - Paradela 2.

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No alto, o cume das montanhas sustenta o céu sobre rochas fraturadas; onde pelas madrugadas o sol de verão se prepara para voos diurnos. E a terra nutrida de luz solar põe à vista extensões de terreno que se distinguem pela tonalidade da cor: castanha, ocre, bege… Tonalidades que se vão acentuando ou sombreando, à medida que o sol vai percorrendo a sua linha de destino; no sentido do poente. Aí, floresce a urze e frutificam os silvados. Aí, as flores selvagens exalam truculentos odores, chamando a atenção das abelhas para os seus néctares. Aí, ao fundo, a água do rio encaixada entre fragas, é tão mais quieta do que a brisa; é tão mais azul luzente do que o céu! (talvez – aqui – nesta mancha de rocha pejada de sombras soltas e de silêncio, onde a respiração da terra humedece a planta dos nossos pés descalços, talvez – aqui – se possa ouvir a lenta e inaudível evaporação da água… talvez.) Quando a noite cobre o céu, as vacas silenciam os seus chocalhos. E dormem, simplesmente,