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A mostrar mensagens de agosto, 2021

Alternância

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  Alternância O peso era do sol: pesavam as chamas; o céu, as portadas azuis; a melodia intensa; a tónica era nos reflexos que habitavam as águas; as mãos dadas - enamoradas; sempre juntos: a ilha é dos amores; as flores silvestres tocadas pela brisa - leve -  sincronizando as cores com o declive da encosta, em notas marginais. As horas alongaram-se. A noite veio: arrancou a luz à paisagem, criando outra melodia. Eugénia

Adentro a noite

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adentro a noite o frufru     brando de um morcego - minúsculo Eugénia  

Era agosto

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Veio num sobressalto, encheu a noite: era agosto. Num impulso, uma réstia de luz salta; desenha a fronteira da sombra - acetinada; a traço fino. Eugénia

Marcas eternas

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Marcas eternas Reabro uma memória da infância e encontro o lírio branco na vereda do quintal. É tão fácil recordar um lírio branco; o voo rasante do pólen riscando a terra, tocada pela seiva. A vida: em certos dias, toma a voz de um lírio branco inebriando-me os sentidos com devoção. Os quintais. Falar dos quintais da cidade é como quem narra um conto do maravilhoso: as emoções afloram... A única diferença é que os quintais invisíveis da rua são reais; os contos maravilhosos são fruto da imaginação: localizam-se no imaginário colectivo. Mas os quintais prevalecem também nas representações sociais da cidade pelas vivências que ocasionaram ou ocasionam... Agrada-me falar dos quintais - desse verde escondido - como quem escreve uma carta a um amigo. Porque as cartas são uma forma de diálogo sustentado pelo silêncio. E, assim, amigo: A história que te vou contar começa com uma casa. Uma casa; a fachada revestida a azulejo. A face da rua sugeria um só piso. Mas a vista das traseiras revel

Alvoroço

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Alvoroço Em dia de verão cedo nasce o sol. E logo o alvoroço desponta; sob azul céu. São as flores que abrem da seiva que corre na terra. São os rumores das asas abertas a dançarem à luz. As gotas que cantam da nuvem nascente. E o vento que passa e ondula as algas da beira-mar. São as areias que se soltam das praias e moldam as dunas. E crescem os cardos. onde se projecta aceso o sol. As aves do céu. Que na face polida das águas onde os rios abraçam os mares se espelham e recriam os seus próprios voos. Olho: O crepúsculo pelo fim da tarde onde se fundem as cores escaldantes de verão com as entoadas - cem decibéis - das cigarras. E sonho: Enquanto regressa o luar. Eugénia

Será?

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Será este o quintal de onde cai o perfume do jasmim - o voo de canto da cotovia?  Eugénia

Desci a rua

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  Desci a rua. Uma rua de olhar sereno sobre a árvore que me inspira. Envolvida de uma luz de fim de tarde, particularmente bonita.  E nada fazia prever aquele momento de luz invulgar propício a uma estória. Uma estória a guardar numa folha de caderno. Assim: Era uma vez uma rua. Uma rua de olhar sereno. Nessa rua havia uma árvore. E havia um menino. E próximo dessa árvore havia um parque. O parque tinha um balancé. Mas o menino não baloiçava no balancé. O menino preferia ficar parado defronte daquela árvore. Inclinava a cabeça, ora para um lado ora para o outro. E os seus cabelos baloiçavam. Caídos sobre os seus ombros. Enquanto o menino olhava, ora a frente ora o verso, de uma folha da cor de outono. Inundada de pedrinhas, umas azuis outras douradas, facetadas pela luz. Na paragem do vento. Onde residia a quietude da folha olhada pelo menino. A mãe do menino gostava de ver aqueles cabelos a baloiçarem. Eram vermelhos acastanhados. Exactamente a cor daquela folha que o menino gostava

Viajando...

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constelações esculpidas a cinzel  –   viajando    sobre pedra Eugénia

Insinuando-se...

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Escrevo-te para te falar do poente. Foi no campo. Era agosto. Àquela hora da tarde o poente resvalava pela colina. Pousava dúctil na vegetação rasteira, insinuando-se como manto de ouro. Mas o ouro era só a cor, densa; onde mil cintilações se coagulam, anunciando o abrandamento da clorofila. Àquela hora da tarde, resvalava pela colina vindo a afogar-se no rio.  Enquanto as pedras das calçadas anoiteciam, declinando a quentura de dentro. Encostei-me para trás na cadeira de lona e distraí-me com aquela tinta negra que escurecia, ponto a ponto, as folhas das árvores. E redesenhava a tessitura dos troncos. Andava um pio de ave à solta; naquela paz completa das noites do campo, que antecede o luar. Sosseguei. Eugénia  

A cor negra

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Perguntaste-me       porque é que o melro não canta Respondi-te       que a cor negra não é só a cor       da noite       onde o canto do melro        voa              a cor negra       é também       a cor da sombra Eugénia

Pequenas notas 14.

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o coração é o lugar onde Vénus guarda o brilho .   da estrela da manhã . até a noite chegar Eugénia  

Pequenas notas 13.

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Bela Emília. O mesmo que pureza; sinónimo de azul toldado de violeta. O mesmo que pôr os olhos na alvorada - que navega - e reparar no brilho virgem de Vénus. Eugénia

Vi, uma flor...

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Vi: Uma flor. Um feixe de luz sublinhava o recorte de cada pétala; a lentidão coloria brandamente a sua pele, em cada gesto. Vi: A vocação da terra de transformar a seiva em flor, compondo juntamente com a brisa um bailado -  aguarela-musical. Vi: Uma flor. Mas confesso: Não sei de que mão veio aquele gesto que encheu o seu cálice de perfume. Eugénia  

Cor-de-rosa

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Ao contemplar uma rosa - cor-de-rosa - a Maria Rosa trauteou uma canção. Eugénia

Sinfonia

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Fotos: Markus Zuber   Textos: Eugénia Soares Lopes  

No regresso

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a noite regressa a voz    – canto do melro Eugénia

Escuta

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Escuta: o silêncio carregado de mistério no toque da brisa no esboço da sombra na rémige da ave Escuta: o silêncio no ritmo da seiva na clorofila da folha na gota de água no grão de terra no fulgor da mica Escuta. Eugénia