O motivo era a dança...
O que se passou naquele dia para que ainda hoje o tenha na minha memória? A manhã pouco diferia das manhãs de outras primaveras – presas ao florescimento. No entanto, aquela manhã daquele dia buscava a mais eterna perfeição: trouxe com ela – abrigado – um fio de luz. Pelas doze horas deixou-o livre para que atravessasse rectilíneo o rectângulo de vidro – que é janela. E esse fio, certamente desejoso do bem que é carácter do belo, entrou na sala; reluziu o seu traço tanto, tanto, como se estivesse a fazer brilhar um ponto longínquo do universo. Pousou. Pousou num novelinho fechado que com o tempo se tinha formado num exíguo galho de arbusto, banhado em jarra de vidro coalhado. Enlevado. Pois, o que fazer, quando um novelinho vegetal quer ser tocado? E naquela turbulência do toque inventou – para que as escutássemos – uma multiplicidade de florinhas. Do cadeirão onde me sento, ainda no início da noite, sinto o odor dito nocturno e doce projectado por aquelas florinhas dispostas