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A mostrar mensagens de maio, 2021

O motivo era a dança...

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O  que se passou naquele dia para que ainda hoje o tenha na minha memória?   A manhã pouco diferia das manhãs de outras primaveras – presas ao florescimento. No entanto, aquela manhã daquele dia buscava a mais eterna perfeição: trouxe com ela – abrigado – um fio de luz. Pelas doze horas deixou-o livre para que atravessasse rectilíneo o rectângulo de vidro – que é janela. E esse fio, certamente desejoso do bem que é carácter do belo, entrou na sala; reluziu o seu traço tanto, tanto, como se estivesse a fazer brilhar um ponto longínquo do universo. Pousou. Pousou num novelinho fechado que com o tempo se tinha formado num exíguo galho de arbusto, banhado em jarra de vidro coalhado. Enlevado. Pois, o que fazer, quando um novelinho vegetal quer ser tocado? E naquela turbulência do toque inventou – para que as escutássemos – uma multiplicidade de florinhas. Do cadeirão onde me sento, ainda no início da noite, sinto o odor dito nocturno e doce projectado por aquelas florinhas dispostas

Improvisos Instante 3

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Há canções sem palavras que se soltam da partitura. Há poemas sem palavras que se soltam do piano. Amores-perfeitos. Amores perfeitos. Sextinas tecem movimento. Sobre tapetes harmónicos.   Sonhei estar a teu lado a ouvir aquela música.   Amores-perfeitos   Amores perfeitos                o despenho                   da onda                     o vinco                        de onde irrompe                     a espuma   Amores perfeitos   Amores-perfeitos                a quilha                  sobretudo cerúleo                     sobretudo vinco                        de onde irrompe                o barco                  que leva o vaso                     amores-perfeitos                        em movimento   Sonhei estar a teu lado a ouvir aquela música                que nos cerca                  que nos prende                    que nos liga Amores perfeitos   Amores perfeitos.   Eugénia   (Apresentado em «Arte no Tempo»: evento «Que música ouvimos?» - Museu de Santa Joana, A

Sobre parede antiga

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Sobre parede antiga   voos de andorinha arrulhos de pomba caindo devagar de velhos telhados amarelos térreos nuvens brancas  sóis girando a flor do Porto enfeitando as casas   Eugénia Pintura: THIRD.RUA.2021  

Como...

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como peregrino o rumor de um voo – flores de primavera Eugénia  

Celúrio

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  Celúrio   Cor da borboleta-azul. Arando o céu. Decantando a luz que cai sobre a folha. Aprimorando a rima da seiva - como poema - , desde a primeira aurora até ao poente.   Eugénia

A mancha do poema

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a voz do pássaro   o silêncio da seiva   a cumplicidade da esteva   o ocre da terra    –   talvez sejam a mancha do poema . ah, o voo caminha descalço sobre  a sua sombra . no declive da aurora uma ave  – sobre vestes amenas Eugénia

O quase nada...

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Talvez a essência seja o quase nada. O quase nada. Ao fim da manhã. Névoa plana. Pousada em repouso. Embrulhada. No silêncio. Tudo esconde. Quando às tantas uma mão de brisa tange. Adentro a água.   Eugénia