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A mostrar mensagens de abril, 2021

Improvisos

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Improvisos Foi num daqueles momentos de súbita beleza que me permiti acolher, nas mãos unidas em concha – os dedos de uma  aos da outra  entrelaçados –, a atmosfera poética que persistia fugaz do lado de lá da vidraça da janela. Havia naquela atmosfera – suspensa, difusa – uma névoa tocante, quase tonalidade musical, baixando de uma franja do céu até cair, melódica, sobre a nudez dos ramos de um plátano; no plátano mais elevado do terreiro.   Foi na ausência dos melros.   E eu, naquele momento único, olhava aqueles ramos por detrás da vidraça; a serem molhados. Eram finos esses ramos enquadrados no cume do plátano, dirigidos ao céu. Aqui e acolá, um aquénio a querer soltar-se, pedúnculo frágil e movediço; tal dança tocada por vento leve, muito leve – tão leve como sopro imponderável da separação das águas da névoa.   Oscilavam somente. E: Cativada por aquela visão efémera, a finalizar-se, senti aquele impulso maduro que nos condiciona e nos leva de modo inelutável a querer prolongar no

Devagarinho

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Devagarinho   a mão do menino vai folheando o sonho     bem          me              quer   assim como quem  soletra um verso branco .   Eugénia

Em casa

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Em casa    canta o sol em segredo –    música composta    pela penugem da ave   . Vesti-me    de cetim    mas tu não vieste    a rua foi suspensa    pelo silêncio   . Flor    não estás só –    há múltiplas pétalas    a abrirem-se   Eugénia

Da janela

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Da janela A humidade esconde-se na sua luz; inaugura uma nova cor; em pleno meio-dia, o cinza húmido, a clareza parada. Deixa-te divagar. Pousa o teu rosto entre as mãos, os cotovelos no parapeito da janela; a luz é pouca, mas não percas a queda da pétala. Ela oscilará encostada a uma ponta de vento em direcção à terra; nela, o peso frágil; a inocência; o seu brilho de seda, quando o movimento cessa. Há o mesmo brilho nas asas da borboleta; na sombra que leva ao peito; na dança do crepúsculo, inclinado sobre a areia. Eugénia