Improvisos
Improvisos Foi num daqueles momentos de súbita beleza que me permiti acolher, nas mãos unidas em concha – os dedos de uma aos da outra entrelaçados –, a atmosfera poética que persistia fugaz do lado de lá da vidraça da janela. Havia naquela atmosfera – suspensa, difusa – uma névoa tocante, quase tonalidade musical, baixando de uma franja do céu até cair, melódica, sobre a nudez dos ramos de um plátano; no plátano mais elevado do terreiro. Foi na ausência dos melros. E eu, naquele momento único, olhava aqueles ramos por detrás da vidraça; a serem molhados. Eram finos esses ramos enquadrados no cume do plátano, dirigidos ao céu. Aqui e acolá, um aquénio a querer soltar-se, pedúnculo frágil e movediço; tal dança tocada por vento leve, muito leve – tão leve como sopro imponderável da separação das águas da névoa. Oscilavam somente. E: Cativada por aquela visão efémera, a finalizar-se, senti aquele impulso maduro que nos condiciona e nos leva de modo inelutável a querer prolongar no