Com cheiro a manjerico



Chove a orvalhada      - veio
perseguindo a folha    do cedro
devagarinho           ao anoitecer

Há memórias que se guardam perduráveis no lugar restrito às branduras da infância. E é assim com a festa. Embora nocturna. Embora multidão. Talvez porque a imaginação lhe tenha dado um rosto humano. Numa idade em que a imagem da união e da alegria extensiva nos torna conviventes. E talvez também porque atravessada por aquela mão dócil, do pai ou da mãe - a segurar a nossa mão -; na outra, o alho-porro.
Era: 
A tez da cidreira sobre um trapo axadrezado, pousado na pedra da rua calcinada pela noite. E eram as névoas voláteis, esfumadas: vindas do carvão a arder, a vaguearem lá mais para cima; a espiarem a atmosfera humedecida, comummente, golpeada pelo cheiro a sardinha assada; cheiro entontecido pelo esplendor do limonete. E os gatos por perto. A espreitarem de dentro de ruelas, estreitas como frestas, abertas na pedra.
E eram:
As labaredas suspensas da carqueja a balançarem ao compasso dos saltos arqueados; de quem salta versátil; e não deixa de sorrir. E eram as danças - de roda.

O São João do Porto. A noitada.

Na manhã seguinte, o sol determinado, já desprendido da primavera, já seco da orvalhada, vinha enternecer os componentes do granito, fazendo a mica brilhar; amaciando o feldspato, gratinado pela cor roxa da alfazema.

Eugénia

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