Itinerários

 


Do céu, sabemos da mutação das cores; dos dias e das noites. Sabemos do folguedo das asas. Do rompimento celeste pelas quilhas - para que as aves o atravessem sem dor. Sabemos que da terra se levantam as árvores, os galhos; as aves que os sobrevoam e os ninhos.

A casa está dentro de um jardim. Do jardim eleva-se a árvore. Em frente da casa a rua principal. Uma rua longa e antiga. Outrora vibrava dentro dela o movimento. Agora vive do silêncio. Uma ave decide atravessar o céu. O céu vai ao seu encontro e dá-lhe passagem. Às tantas a ave oculta as asas. Pára. Repousa imóvel num galho no alto. E aí fica. A olhar.

Sigo o passeio. Olho a ave. Respeita o silêncio. Nem um chamamento se ouve. Nem um chilreio. Somente o brilho verde metálico se lhe solta da cauda. parece feita de papel lustroso. Biodegradável. Usado na criação de origamis. Atravesso a rua. A caminho de casa. Subo as escadas. Abro a porta. Entro. Subo ao segundo piso. Pego numa folha de papel. Corta-a de modo a obter um pedaço com a forma de quadrado. Dobro esse quadrado de papel ao meio segundo a diagonal. E prossigo...


ave . pega-
- rabuda . vai pelo céu
desfolhando lírios-da-
-chuva

Eugénia
(2020)


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