Rotunda da Boavista
Naquela tarde de meados de março
a humidade ia preenchendo, com todo o vagar, os vazios do azul-celeste. Por
isso havia nele uma luz húmida, como rio estreito em queda; baixando das raízes
do céu até à terra.
Graças àquela luz interrompida, de
inverno, podemos assistir ao restauro da primavera.
Ser-nos-á, então, permitido
contemplar com outra emoção os bancos de jardim a deixarem-se percorrer por uma
luz renovada – uma luz que brilha; convidando-nos a sentar para que
contemplemos, sem darmos pelo tempo, as árvores. Ou até lermos nas suas folhas,
poesia – ritmos herdados do passado; segredos adentro
nervuras.
Podemos testemunhar o regresso
dos chilreios; e questionarmo-nos sobre o nome dos pássaros que as visitam.
Veremos a cor festiva das camélias a dar lugar ao recorte da folha do
tulipeiro; à fragrância do âmbar; à lembrança daquela tisana de tília tomada em doce convívio, ao
redor de uma mesa de esplanada; aos seus raminhos em flor.
E descortinar o movimento, em
choque, das ondas do mar – distante, batido pela intempérie –; a invadir as
asas das gaivotas.
Segui a Avenida da França.
Atravessei. Sentei-me num banco de jardim.
Eugénia
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