Há cidades...


Pedra e Vozes

Há cidades onde é possível a neblina branca

como bruma; o espanto a cair sobre pontes;

e quando a neblina se esquece, o sol brilha

como ouro antigo

acendendo e apagando a mica do granito.

                                                              Pedra.

Há cidades onde as gaivotas inundam

o céu nocturno sobre magnólias da avenida.

Vistas fixamente no alto, tecem enlaces

juvenis; agitam os tecidos celestes; regressam

aos seus lares em hora tardia. No cansaço

das asas.

                                                              Vozes.

Há cidades onde uma paixão rara nasce,

moldada pela pedra cuja dureza nos inspira

o sonho e nos une, torneando os alicerces

da vida;

enquanto as águas rodeiam os rochedos

com espuma, vinda de um lugar

fogoso do mar; as algas; os mil poentes

onde os nossos olhos mergulham.

                                                              Pedra.

Há lugares feitos de palavras onde poetas

nascem em ruas de pedra e musas:

desde os primeiros instantes de respirar,

me iluminou a luz sólida de granito, palpei

o granito dos muros, senti a aspereza

de granito nos dedos, pisei as longas lajes

dessa pedra agreste que me deu a

dureza firme de raiz no esqueleto;

José Gomes Ferreira; um poeta

– necessário –

 que muito me importa.

 

Eugénia

 

em «Porto, pedra e vozes – stone and voices» | Markus Zuber, Eugénia Soares Lopes

 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O teu poema

Pequenas notas 10.

Pequenas notas 9.