Desci a rua
Desci a rua. Uma rua de olhar sereno sobre a árvore que me inspira. Envolta numa luz de fim de tarde particularmente bonita. E nada fazia prever aquele momento de luz invulgar propício a uma estória. Uma estória a guardar numa folha de caderno. Assim:
Era uma vez. Uma rua. Uma rua de
olhar sereno. Nessa rua havia uma árvore. E havia um menino. Próximo dessa
árvore havia um parque. O parque tinha um balancé. Mas o menino não baloiçava
no balancé. O menino preferia ficar parado defronte daquela árvore. Inclinava a
cabeça, ora para um lado ora para o outro. E os seus cabelos baloiçavam. Caídos
sobre os seus ombros. Enquanto o menino olhava, ora a frente ora o verso, de
uma folha da cor de outono. Inundada de pedrinhas, umas azuis outras douradas, facetadas
pela luz. Na paragem do vento. Onde residia a quietude da folha olhada pelo
menino.
A mãe do menino gostava de ver
aqueles cabelos a baloiçarem. Eram vermelhos acastanhados. Exactamente a cor
daquela folha que o menino gostava de perscrutar.
O menino cresceu e aprendeu a
escrever a palavra árvore. Às vezes escrevia essa palavra com ‘A’ maiúsculo.
Outras vezes, com ‘a’ minúsculo. E cantarolava, sílaba a sílaba, enquanto
escrevia essa palavra, quer com ‘A’ maiúsculo quer com ‘a’ minúsculo. Sempre com
a sua letra bem redonda.
O pai do menino, pelos fins de
tarde dos fins-de-semana, pegava em tintas e pincéis. Sentava-se num banco
defronte de um cavalete. E transformava as telas em pintura.
O menino gostava de ver os
cabelos do pai a baloiçarem. À medida que na tela nascia uma nova árvore.
O menino cresceu. E um dia pegou
numa folha de papel; cor da luz de um fim de tarde de outono particularmente
bonita. E nessa folha escreveu um poema.
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