Cata-ventos


Cata-ventos

 

A princípio era a calma absoluta

A imensidão das searas pousadas

A quietude das folhas das árvores

A luz sossegada espreitava o tecido

da noite.

Depois o Vento chegou

e tudo era movimento.

Veio ter comigo

Despenteou-me os cabelos

Afagou seus dedos meu rosto.

Viajei sobre ondas num barco à vela.

Atravessei milhares de horizontes.

Eram azuis, eram de água.

Eram verdes, eram de terra

ao fundo das planícies.

Eram rochosos nos recortes dos montes.

Vi Éolo soprando brisas sobre pétalas cativas

ondeavam asas de borboleta.

Vi Éolo dispersando pólenes das gramíneas

giravam hélices de moinhos de vento.

Borbulhavam rios no sopé dos leitos.

 

Vi Éolo. Guardião dos ventos.

Vi seu vassalo Zéfiro vindo de oeste.

Beijava Flora. Nasciam jacintos

no chão – a seus pés.

Vi. Ou sonhei?

 

Eugénia

Texto que acompanhou um cata-vento leiloado na Escola Artística Soares dos Reis, ano 2012, com quem colaborei a convite de Carlos Sousa Ramos. Leilão a favor de alunos que gostariam de prosseguir os seus estudos, no âmbito das Artes, e com reais dificuldades, por questões económicas.

Mais tarde, criei uma ilustração para o texto. O cata-vento foi vendido por licitação…


 

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