Sabemos

 


Sabemos
 
Sabemos dos ventos que ondulam trigais
das sementes que da terra brotam
verdes erectas a germinarem seu fruto
como criança que respira o primeiro ar.
Sabemos dos voos das folhas de encontro
aos astros; das estrelas-do-mar.
 
Sabemos do suor feito mágoa sofrida
em músculos humanos por quotidianos
agrestes – corações ceifados.
Sabemos das notícias dos jornais
de terras irmãs em poucos segundos
reduzidas a escombros.
 
Sabemos que a perda da esperança
deflagra como bomba dentro de nós;
e que tudo se perde quando se perde a paz.
 
Sabemos dos fabricantes de ruínas.
Sabemos do sangue esvaído na luta pelo pão.
Sabemos que as sementes florescem
do entreaberto da nossa mão.
Sabemos caminhar com braços dados
a olhar em frente. Sabemos cerrar os lábios.
 
Sabemos dos horizontes claros.
 
Sabemos. E por aqui andamos a mascar
do dia-a-dia o tédio que nos dão;
a roer no quotidiano as unhas
com os braços caídos dos ombros
inquietos ao longo do corpo; divorciados
dos braços de nossos irmãos. Até quando?
 
Até quando? Andaremos por aqui
dia após dia na ânsia esquecida
da urgência de povoar
com mil rostos a escuridão
 
na mesma vontade
de ventura vivida pela seiva
sobre a terra
em flor…
 
Para quando?
O combate assertivo.
 
Para quando?
As janelas abertas à luz.
 
Para quando?
 
 
Eugénia  | 2011.Abril



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