Escadas do Codeçal


A escada
 
Seduz-me o halo de envelhecimento que rodeia a escada. Em sua traça, a cor dos tempos, as vertigens da humidade; a erosão dos passos cronometrados e das lufa-lufas intemporais; o eco dos sonhos que adivinho ao longe; o limiar e os limites das vidas.
 
Composta por múltiplos frisos intervalados de degraus, convergem nela as sombras: afrescos congruentes com os debruns dos telhados; com a elevação e arestas das casas; em obediência ao sol.
 
Ao fundo, o quadro é azul.
 
A esta hora, a escada é deserta: é tudo tão calmo; somente o reencontro com a irrealidade.
 
Desço mais um degrau. Uma sombra cai-me na mão: ouço-a, tão fina sem me melindrar a pele. E esta música que vem ter comigo?! Insinua-se percutida em xilofone; apoiado em pedregulhos roídos pelas mais bravas leves ondulações.
 
Ouço aquela música até que em mim fique. Não só a percussão, mas também, como visão prodigiosa, o afago das folhas trifoliadas pertencentes aos caules dos codessos que fazem ressaltar o amarelo sonoro da flor; sugestivamente, em cacho.
 
Eugénia

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O teu poema

Pequenas notas 10.

Pequenas notas 9.